Não é permitida a alunos de cursos de pós-graduação a realização de um doutorado sem um orientador. Mesmo sabendo o que querem, tendo um projeto bem delineado, com objetivos bem definidos, referencial teórico condizente e metodologia consistente, ainda assim é preciso ter um orientador. Alunos dos cursos de graduação também precisariam de orientação, mais até do que os de nível de pós-graduação, e não a têm regularmente; se a tivessem, os atuais níveis de desistência nos diversos cursos certamente seriam menores. E um aluno que ainda não entrou na Universidade carece mais ainda de orientação do que quem nela já ingressou, apesar de somente contarem com tal recurso de modo circunstancial, em decorrência da atenção voluntária e solidária de alguns de seus sobrecarregados professores.

A atividade de orientação ou de tutoria, com este ou com outro rótulo, é absolutamente fundamental na Escola Básica. A formação pessoal dos alunos não pode se completar apenas nos limites do espaço-aula. As aulas são um espaço nobre, imprescindível  para o professor realizar seu trabalho de cartografia de relevâncias, nos diversos territórios disciplinares. Mas a aula é um espaço mais adequado para a exploração de centros de interesses previamente existentes ou programados do que para a criação de novos centros de interesse. Espaços maiores do que o da aula, como o de uma conferência, uma palestra, um filme, uma peça teatral, um estudo do meio, a realização de um pequeno projeto, podem ser muito mais eficazes nesse sentido. Uma palestra sobre a situação da água própria para o consumo humano no mundo pode funcionar como um importante catalisador para o interesse nas aulas de biologia, física, química, geografia etc. Um filme ou uma peça de teatro podem servir de pretexto para a discussão de temas transversais importantes, de natureza ética ou política, por exemplo. Quando se oferecem aos alunos da Escola Básica espaços mais amplos do que o de uma aula, abrindo-se o leque de temas importantes para a vida e a formação pessoal dos alunos, corre-se o risco de ver os alunos se interessarem por temáticas excessivamente complexas do ponto de vista ético, ou mesmo incompatíveis com a maturidade dos mesmos. Não cabe, no entanto, qualquer tipo de censura, ou a abertura para temáticas transdisciplinares resultaria comprometida. O antídoto para os desvios indesejáveis é justamente a interação pessoal, a conversa amiga, a atividade de orientação, de tutoria, de aconselhamento.

*******SP  12-12-2016

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