As narrativas infantis são binárias. Não se pode perguntar a uma criança se ela é a favor ou contra a eutanásia; na construção da consciência, os primeiros passos são escolhas simples entre o bem e o mal. Paulatinamente, na construção de valores, as crianças enfrentam situações envolvendo dilemas, em que o A e o não A parecem igualmente inaceitáveis; e agora?

A ultrapassagem de dilemas se dá pelo vislumbre de uma terceira posição B, que também será levada ao confronto com sua negação não B.

Na narrativa jurídica, por exemplo, normas surgem a partir de duas oposições fundamentais: proibir x não proibir, permitir x não permitir.

Naturalmente, a vida não se resume a fazer o que a lei permite e não fazer o que é proibido: o espaço do livre-arbítrio é fundamental. Narrativas humanas vão muito além da disputa entre dois pares de opostos, podendo envolver também C x não C, D x não D… Lidar com múltiplos pares de opostos é dinâmica fundamental no terreno multivariado das narrativas complexas.

 

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