Para Freud, a linha divisória entre a psicologia individual e a psicologia social era tênue. O conhecimento das motivações das massas era condição de possibilidade da atuação consciente do homem de Estado, não para controlá-las plenamente, o que é praticamente impossível, mas para não ser governado por elas. Em seu Psicologia das massas e análise do eu, Freud acolhe Gustave Le Bon com simpatia incomum, ecoando trechos do livro Psicologia das Multidões, de Le Bon, ao afirmar que “na multidão, a personalidade consciente desaparece, os sentimentos e as ideias de todos os indivíduos orientam-se numa mesma direção: as multidões não acumulam inteligência, mas sim a mediocridade”. Ao investigar a atuação das massas, identifica três pares de “I”s: Inconsciência e Irritabilidade; Impulsividade e Instantaneidade; Instabilidade e Influenciabilidade, associados respectivamente à carência de censura, a ausência de planejamento e a frequente inconsistência. Para ambos os autores, o mero fato de pertencer a uma massa faz com que o ser humano desça vários degraus na escala da civilização. Outro autor diretamente relacionado com o tema é Gabriel Tarde. Em seu A opinião e as massas, distingue, no entanto, a  massa e o público, corrigindo Le Bon: “Não posso conceder a Le Bon que nosso tempo seja a era das multidões; ele é a era do publico, ou dos públicos, o que é bem diferente.” E pretende que os públicos diferem das multidões no que diz respeito ao fato de que a proporção dos públicos de fé e de ideia é bem maior do que a dos públicos de paixão e de ação, inversamente ao que ocorre com as multidões. Atribui um papel extremamente relevante ao jornal, ou aos publicistas (jornalistas) como formadores de opinião. A análise de Tarde é realizada em 1901, bem antes do aparecimento das tecnologias informáticas. É admirável, no entanto, seu caráter premonitório: em muitas partes de seu livro sentimo-nos como se ele estivesse falando das redes sociais, e, sobretudo, das campanhas eleitorais.

********SP  31-10-2016

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