Uma matéria publicada no jornal The New York Times examina as razões pelas quais dúzias de jovens americanos e de outras partes do mundo são atraídos pelas ações violentas do auto-denominado “Estado Islâmico”. Indícios são levantados para compor uma espécie de “check list” que permitiria o esboço de um perfil a partir de características externas, mas os resultados não parecem animadores. Decididamente, o buraco é mais em baixo. A necessidade humana de uma razão para viver, de um sentido para a vida, de uma causa para partilhar com os outros podem estar mais próximas das raízes do problema. Em outros momentos históricos, ingressar nas forças armadas de um país, tornar-se religioso em alguma ordem, servir em organizações internacionais beneficentes já constituíram atrativos. Mas as nacionalidades se apequenaram ou se desviaram para anseios de governos ou, pior ainda, de governantes personalistas, as religiões se desfiguraram em intolerâncias e disputas sem fim, a economia corrompeu a ideia de valor, reduzindo-o quase que exclusivamente a sua dimensão econômica, as tecnologias estimulam – literalmente – os desejos, disfarçando a necessidade da consciência e da racionalidade dos projetos. Em consequência, instala-se na mais pura das pessoas uma tensão e uma tendência para um vazio existencial. Como destacou Owen Flanagan em seu fundamental livro The really hard problem, o máximo desafio que se oferece ao homem atual é crescer em consciência e permanecer apostando no significado da vida. O combate ao terrorismo não avançará a partir de “check lists” muitas vezes preconceituosos, mas sim por meio da construção de instâncias de articulação entre projetos individuais e coletivos, sem esquecer, nem um minuto, de que projetos são sustentados por uma arquitetura de valores, e projetos sem valores podem ser coisas monstruosas. No combate ao terrorismo, o desafio permanente é de uma educação que cultive valores como  uma religiosidade humana sem nos obrigar a escolher uma religião, que valorize as culturas nacionais sem identificar diferenças com desigualdades, que nos faça, a cada dia, a cada gesto, participar da construção de um mundo mais solidário, que não se limita ao universo da economia, que não confunde valor com preço.

********28-03-2016

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