Em coluna no jornal Folha de São Paulo (16-05-2017), ao argumentar sobre a suposta ineficácia da escola na formação para a democracia, no afã de chamar a atenção para as limitações de tal instituição, Helio Schwartsman comete dois equívocos primários. Em primeiro lugar, confunde uma formação escolar básica de qualidade, que é, sem dúvida, uma condição necessária para o funcionamento de um regime democrático, com a competência técnica para assuntos científicos. Quando se pensa na educação básica, não há outra resposta para a questão proposta pelo articulista: a boa educação melhora a qualidade do voto. Entretanto, como bem advertiu Dewey em Democracia e Educação (1916), trata-se da educação básica e não daquela que visa a aumentar a quantidade de sábios ou de sabidinhos presentes na população. A existência de institutos superiores de excelência, como o citado por Schwartsman, não constitui um indicador suficiente da qualidade da educação básica dos cidadãos da região considerada. Em segundo lugar, o que Schwartsman critica – e fazemos coro com ele – é um funcionamento inadequado da democracia em situações específicas, como a da fluoretação da água, no exemplo citado no texto. Certamente questões de natureza técnica ou científica não podem ser decididas por meio de plebiscitos ou manifestações diretas da população. Não se pode fixar o valor dos salários, por exemplo, por meio de uma consulta direta decisiva à população. Fundamental nas eleições para o exercício do poder legitimamente constituído, a regra da maioria não pode prevalecer em âmbitos específicos mais restritos, como o do funcionamento da ciência, da família ou da escola.

********SP 16-05-2017

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