Uma boa ação praticada sem a intenção correspondente não pode ser considerada meritória, assim como não o é uma boa intenção que não se converte em ação, mas não existe simetria entre a intenção e a ação. Ter a intenção de praticar um crime sem o fazê-lo não pode levar alguém a ser preso; praticar uma ação criminosa, mesmo sem a intenção correspondente, é crime. O que distingue um homicídio doloso de um homicídio culposo, por exemplo, é justamente a intenção de matar, presente no primeiro caso e ausente no segundo. De modo geral, as intenções consistentes caminham no sentido da constituição de um projeto de ação. A partir daí, a palavra é dada à competência pessoal, que estrutura um planejamento das ações intentadas. Sem competência, o planejamento, que é a etapa de operacionalização de um projeto, não conduz às ações efetivas. Um obstáculo frequente no caminho entre as intenções e as ações é a conformação. Uma ação pode ser transformadora da realidade, ou conservadora de algumas de suas dimensões. Em cada contexto, a cada momento, nem tudo o que existe deve ser transformado, e nem tudo o que existe merece ser conservado; em cada caso, no entanto, a sintonia entre as intenções e as ações é fundamental para a integridade pessoal e a consistência dos resultados. Um ruído frequente na busca de tal sintonia é a “conformação”. Existem situações em que a intenção da ação transformadora enfrenta obstáculos tão grandes que a tentação da conformação prevalece; vamos deixar como está para ver como é que fica. Simetricamente, mesmo quando quase todos tencionam determinada mudança, há os que não encontram justificativas para isso e gostariam de manter o que existe como está; mas seria muito difícil,  muito trabalhoso resistir, e então, conformamo-nos à mudança. Um caso particularmente interessante em que a assimetria intenção/ação é evidente é o da responsabilidade pela palavra enunciada. Uma vez proferida a palavra desviante – uma calúnia, uma injúria, uma incitação ao crime, uma leviandade qualquer – , do ponto de vista legal, a responsabilidade deve ser necessariamente assumida, e as consequências jurídicas são naturalmente esperadas. De pouco adiantam pretensões de inocência como “não foi esta minha intenção”. Como elemento vital na construção da consciência na ação, a força da palavra é imensa e a responsabilidade do enunciador certamente ultrapassa em muito suas intenções.

******** SP 29-04-2017

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