A promiscuidade entre o público e o privado, as tentativas de generalização (“sou corrupto, mas, quem não é?”), a descrença nos políticos, e por extensão, na política, a aparente ausência de um ponto de apoio honesto para alavancar o mundo dos negócios têm levado as empresas a dedicar atenção e a investir em medidas de controle da corrupção rotuladas pelo termo compliance. Trata-se de um reconhecimento explícito de que a ignorância de princípios mínimos da Ética não serve nem aos trogloditas do lucro, gerando um sistema de relações de desconfiança que não pode garantir nem um mínimo de sustentabilidade à roubalheira geral. Tal como os cases  das palestras de executivos são apenas simulacros dos causos que os caipiras sempre nos contaram, Compliance é apenas uma palavra chic, desnecessariamente importada,  para sublimar o fato de que o que falta mesmo é vergonha na cara no ambiente dos negócios e da política. No terreno da Ética e da Política já existe há muito tempo uma  outra palavra, em todas as línguas: é a Civilidade, que é o correlato da Integridade em ponto pequeno. Em sentido pleno, a Integridade pessoal representa a garantia da existência de um quadro de valores socialmente partilhados, uma efetiva sintonia entre o discurso e as ações, bem como uma abertura consciente no referido quadro de valores, o que nos possibilita a integração com os outros. O oposto da Integridade é a corrupção, que é um crime bem caracterizado nos Códigos Civil e Penal. A antessala da Integridade é a Civilidade, a pequena ética cuja desconsideração pode não constituir um crime, mas, como um esterco, aduba um terreno em que se instalam as condições prévias para os desvios éticos criminosos. Se a novidade do termo Compliance produzir efeitos saneadores, que seja bem-vinda. Mas uma pitada de Civilidade, de espírito cívico, de corresponsabilidade pelo mundo já seriam mais do que suficientes.

*******  SP  13-04-2017

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