“Um homem chamado Ove” é um filme sueco (2016). O personagem do título é um senhor triste e amargurado, exigente consigo mesmo e com os outros, quase sempre grosseiro com todo mundo. Apesar de um pouco arrastado, o filme tem um roteirista brilhante e bondoso, que conta a história de como Ove chegou a ser como é de maneira instigante, deixando no ar as razões familiares, herdadas e construídas, dos comportamentos agressivos atuais. Ao mesmo tempo, os demais personagens representam pessoas especialmente compreensivas, que quase sempre toleram as grosserias de Ove, em razão de perceberem a sensibilidade tácita e a bondade infinita que ele disfarça. A trajetória do filme é tal que, após uma enorme relutância, quando ele se sente verdadeiramente amado, seu grande coração amolece e sua boa índole prevalece. Não é difícil associar tal história com o clássico de múltiplas versões intitulado “A Bela e a Fera”. Em ambos os casos, a ênfase situa-se na mensagem crucial: uma pessoa precisa ser amada ANTES de se tornar amável, e a vida nem sempre facilita isso. Os dois filmes me fizeram lembrar de uma frase que li em um quadro à venda em pequenas lojas de objetos delicados: “A Fé é assim: primeiro você põe o pé; depois, Deus põe o chão”. Reagir à grosseria com simetria não funciona bem no âmbito das relações pessoais. No terreno da Ética, o Princípio da Ação e Reação somente pode conduzir à Lei de Talião.

******SP  02-04-2017

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