No afã de atrair alunos, algumas escolas superiores e universidades privadas têm ofertado, às vezes, brindes sedutores, como ipods, celulares, entre outros, a quem nelas se matricula. Tal estratégia pode ser interpretada como simples manobra concorrencial, eventualmente diversionista, mas também pode ser indício de um desvio mais sério do ponto de vista educacional.

A questão central que subjaz a tais ofertas é o tratamento dos “produtos” educacionais como mercadorias em sentido industrial. Sem dúvida, o conhecimento transformou-se, há algum tempo, no principal fator de produção, o que aproximou irreversivelmente os universos da educação e da economia. Atualmente, não parece fazer qualquer sentido negar-se a dimensão mercantil do conhecimento, mas é fundamental o reconhecimento de que ele não se reduz a tal dimensão. Trata-se de uma “mercadoria” de características muito especiais: pode-se dar, vender ou trocar conhecimento sem ficar sem ele. Além disso, não se pode controlar o “estoque” do conhecimento disponível: a cada momento, ele pode ser ampliado, como em um passe de mágica. É preciso, pois, adequação e compostura na gestão do conhecimento.

Em decorrência do fato de que o número de alunos concluintes do ensino médio aproxima-se rapidamente do total de vagas oferecidas no ensino superior, quando se leva em conta tanto o ensino público quanto o privado, a disputa por alunos tem se acirrado. Algumas instituições – certamente não todas – têm enfrentado essa questão com alguma criatividade, ainda que com certa indigência teórica. A busca incondicional da satisfação do “cliente” parece ser a tábua de salvação, mas a questão é um pouco mais complexa.

O caminho natural para a atração dos possíveis alunos deveria ser a exaltação das qualidades propriamente acadêmicas de cada instituição: qualificação e dedicação do corpo docente, produção científica, laboratórios, biblioteca etc. Do ponto de vista econômico, no entanto, alguns apelos parecem mais simples e rentáveis. Um deles é exatamente o do recurso à sedução dos bibelôs eletrônicos, às praças de alimentação à maneira dos shopping centers, ou às academias de ginástica, uma verdadeira alegoria aos aspectos periféricos da formação pessoal.

É muito provável que tais estímulos funcionem, pelo menos provisoriamente, até que, mais adiante, a realidade do mercado de trabalho faça cair a ficha. Como se sabe, stimulus é uma palavra latina derivada de sti – objeto pontiagudo, como em estilete, com que se espetavam os animais ou os escravos, tendo em vista impulsioná-los para frente. E mulus é outra palavra latina associada a limitações intelectuais, ou à estupidez de uma mula. O perigo de tais ofertas é que, apesar de atraentes, elas desviam a atenção das questões realmente importantes, podendo transformar-se, desagradavelmente, em verdadeiros estímulos – em sentido literal.

****  SP 16-01-2017

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