Em 1859, Machado de Assis publicou um artigo no jornal Correio Mercantilintitulado O jornal e o livro. Nele, o eminente homem de letras defendeu com muita ênfase uma posição que a História demonstrou ter sido inteiramente equivocada: ele previa a inevitável derrota do livro, no confronto com os jornais. Considerava o livro um meio sem a agilidade necessária para acompanhar as demandas da época; um meio para poucos. Associa o jornal, em consonância com isso, à plena vivência democrática, registrando sem meias palavras, em seu texto, que “o jornal é uma expressão, é um sintoma de democracia; e a democracia é o povo, é a humanidade.” Otimisticamente e de maneira surpreendentemente ingênua, considera que a preponderância do jornal seria “uma aurora de uma época de ouro”. Naturalmente, ele pensava o  jornal como um terreno fértil para a semeadura de textos literários, muito mais do que um veículo para a circulação de informações de interesse comunicacionais imediato. Mas o trem da tecnologia parece ter atropelado as previsões machadianas. Na companhia de Kant e de Marx, Machado não foi capaz de antecipar o extraordinário desenvolvimento das tecnologias informáticas, que levou ao aparecimento dos meios eletrônicos que hoje parecem, a alguns, ameaçar a própria existência dos jornais. As tiragens diminuem no mundo inteiro e, para sobreviver, os jornais deixaram de ser a fonte primária de informações e estão cumprindo outras funções, de caráter analítico. Fogem, assim, da absoluta efemeridade dos textos nas redes informacionais, ganhando uma sobrevida que, no entanto, é muito menor do que a do texto publicado na forma de um livro. A convivência, a colaboração tanto no conteúdo quanto na forma, uma nova repartição de tarefas entre os diferentes meios de expressão parece uma previsão com mais chances de sucesso do que a casca de banana jornalística em que Machado de Assis parece ter escorregado…

*******SP  09-10-2016

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