Vivemos uma época em que o combate aos extremismos se consolida como um dos objetivos precípuos da Educação. É fundamental evitar a redução do universo do discurso ao das narrativas binárias, em que tudo se resume à luta do bem contra o mal, em que os papéis são reduzidos aos de heróis ou de vilões, ao de bruxas ou de fadas. A vida política degenera em perigosa brincadeira infantil quando pretendemos que uma questão em exame apresenta apenas duas alternativas que se opõem radicalmente, e quem não está comigo está contra mim. As histórias reais apresentam sempre múltiplas faces, expressam diversos pontos de vista. A redução a narrativas binárias acaba por conduzir à escolha de um dos extremos em litígio. A ignorância da complexidade das escolhas humanas abre as portas para os sempre indesejáveis extremismos, em diferentes contextos. Não estamos, no entanto, condenados a tal opção, nem se pode pretender que, diante de uma disputa binária, para evitar o extremismo, a ausência de opção teria a pretensa neutralidade como solução. Mas a neutralidade é uma emenda que sempre piora o soneto; em última instância, ela nem mesmo existe. Não tomar uma decisão é uma forma degenerada de decidir. Afinal, como registrou Dante em seu monumental poema A Divina Comédia, “os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que buscaram a neutralidade em situações de crise”. Para uma ação efetiva, que vá além das escolhas binárias, é preciso vislumbrar alternativas. Nas situações humanas, os dilemas ou as contradições são aparentes ou provisórios. A vida não se esgota em escolhas extremistas do tipo A ou não A. Uma análise crítica competente sempre conduz a um possível B, que cria um espaço no suposto terreno vazio pretendido pelo dilema A ou não A. E cada B vislumbrado gera, naturalmente, uma nova negação, um não B que enriquece a discussão. Em vez de uma só oposição, somos levados a considerar duas, três, quatro, e assim por diante. Em sentido humano, as narrativas multifárias são a regra e toda pretensão binária funciona apenas como andaime na construção de um discurso mais rico, mais complexo, mais humano. Em todos os casos, no entanto, é fundamental manifestar uma opinião, e, por mais provisória que seja, tomar uma decisão.

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