Em Democracia e Educação (1916), um livro do início do século XX, John Dewey registra uma máxima notável, no delineamento da organização social: ter Democracia sem Educação, ou ter Educação sem Democracia é como aliviar de uma pena de morte alguém que foi condenado a duas… É fácil concordar com Dewey sobre o fato de que a Educação é condição de possibilidade do pleno funcionamento de um regime democrático, ainda que nem sempre seja simples uma consonância com os meios para a consolidação dos dois macro valores que a máxima propõe.

Mais ou menos na mesma época, no final do século XIX, Gabriel Tarde afirma, com a mesma convicção de Dewey, ainda que com menos repercussão, que uma Imprensa livre é condição de possibilidade de uma Democracia. Em seu texto seminal A opinião e as massas, Tarde destaca a importância da conversa, da comunicação entre os cidadãos no sentido de uma construção efetiva do espaço da troca de opiniões, da conversação não preconceituosa, na antessala da busca de argumentos para uma posterior defesa de ideias, valores e posições. E na construção de tal espaço, o papel de uma Imprensa livre e responsável é destacado com vigor.

A despeito do discernimento e da pertinência na formulação de suas máximas, nem um nem outro pode assistir à imensa amplificação da importância dos fatores vitais para o pleno funcionamento de uma Democracia por eles anunciados, associados ao fenômeno da rede mundial de computadores (1993). No mundo inteiro, as eleições estão sendo intensamente afetadas pela comunicação nas redes sociais de um modo ainda difícil de se compreender.

Uma questão decisiva, ainda a ser explorada, é o fato de que é cada vez mais claro o modo como as redes podem contribuir decisivamente para a chegada ao poder, mas ainda está por ser minimamente compreendida a forma como elas interferirão no exercício efetivo do poder. A tecnologia parece acrescentar uma tremenda complexidade à administração de tal fenômeno, e a face mais visível dos problemas, as chamadas Fake News, parecem ser apenas a pontinha do imenso iceberg da comunicação direta. Eis aí um desafio especial aos cidadãos, enredados ou não.

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