O alerta foi dado por Mauss, em seu seminal Ensaio sobre a Dádiva (1927): a despeito da crescente mercantilização das relações sociais, certos “bens” precisam continuar a circular de forma dadivosa. A vida, a palavra, o voto, a confiança são valores que não circulam por meio de relações de compra e venda. O conhecimento também é reconhecido como um valor que não se deixa apreender completamente pelas relações mercantis.

Mas o elogio da dádiva é visto de modo enviesado pelos defensores do mercado: um discurso sobre o tema parece antiquado ou restrito ao terreno religioso.

Uma especular porta de entrada para um discurso sobre a dádiva pode ser o tema da criação de enlaces humanos, inerentes às relações dadivosas. O motor da dádiva é a criação de laços com os outros: um presente simboliza tal busca e é impossível conceber um ser humano sem vínculos de qualquer natureza.

Sem dúvida, é mais fácil falar sobre laços do que sobre doações materiais, frequentemente corrompidas pelo deus mercado.

 

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