A tentação é forte: fazer aos outros o que eles nos fazem. Bateu, levou. Olho por olho, dente por dente. Lei de Talião. Espelho.

A aparente consonância com a Regra de Ouro – Não faça aos outros aquilo que não gostaríeis que fizessem a ti – serve de conforto. Mas a simetria não conduz à Ética. Mesmo que todo mundo roube, isto não se tornará justo. A Ética pressupõe a decisão unilateral, a assimetria. Uma pessoa íntegra não altera seus juízos, mesmo entre lobos. Em regimes democráticos, o recurso à desobediência civil é o último reduto da integridade pessoal.

Uma situação indiciária é a das leis que não consideramos justas, mas das quais procuramos tirar proveito porque “temos direito”. Quotas, aposentadorias, variados benefícios legais, mesmo rejeitados no nível do discurso, são reivindicados na prática. A Ética se esvai em conveniências.

Como dizia mestre José Mário Azanha, o juiz de futebol não é desonesto apenas quando favorece nosso adversário: também o é quando rouba para nosso time.

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