Out of sight, out of mind, (“longe dos olhos, longe da mente”), diz um provérbio inglês. Entre nós, a canção popular dá mais destaque a outra asserção: o que os olhos não veem, o coração não sente. Tal ligação direta entre a visão e o sentimento circula com ampla aceitação. Já se sugeriu que um reforço de tal elo é o fato de que, quando espremido, o coração liberaria líquidos pelos olhos: eis, talvez, a mais singela definição de lágrima.
Mas, como nos lembrou Pascal, o coração é um órgão cheio de artimanhas, com caprichosas razõesque a própria razão desconhece. Ele enganou Descartes, que o imaginou como sede de uma chama, o que nada tem a ver com a realidade, apesar de inspirar muitos textos poéticos. E ilude continuamente todos nós, que gostamos de reconhecê-lo como uma harmônica e simétrica forma geométrica. Na verdade, o coração é um músculo feio, traiçoeiro, tem a graça de uma orelha, bem distinto de uma cardióide vermelha.
Como se vê, o coração é um grande marqueteiro de si mesmo.

16/10/2012

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