Em um de seus Ensaios, Montaigne relembra a distinção entre filólogos e logófilos, da lavra de Zenão. Os primeiros usam as palavras para apreender as coisas; os outros não se importam senão com as palavras. “Não é que o bem falar não seja bonito e bom, mas (…) lamento que toda a vida se passe nisso”, diz Montaigne.
Em Los logócratas, George Steiner opõe duas concepções de linguagem que conduzem a um dilema similar: o homem é senhor da linguagem ou é seu servo? O logos preexiste ao homem, como no texto bíblico, ou tem uma natureza funcional, mesmo admitida sua transcendência? Vivemos numalogocracia, somos servos da linguagem, hóspedes, eufemisticamente, como sugerem Heidegger e Steiner, ou a temos como técnica fundamental, ainda que constitutiva da natureza humana?
A ultrapassagem de todos os dilemas exige uma desconstrução, muito mais que um sim ou não. Como as mãos que se desenham mutuamente no quadro de Escher, o homem e a linguagem seriam tão indistintos quanto o ovo e a galinha.

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