Comemorar é manter na memória juntamente com os outros. Comemorações são ações de explicitação e consolidação de valores. Sempre envolvem rituais, e devem ser breves e oportunas, ou correm o risco da banalização. São absolutamente necessárias: se nada comemoramos, nada parece ter valor.
Manter na memória não é sempre uma decisão consciente. Não gravamos/apagamos o que vivemos como o fazem os computadores: o que sobrevive é fruto de sutis filtragens inconscientes. O que nos agride pode ser reforçado ou deixado de lado. Impulsos naturais de auto-engano nos levam a extrair do passado o que gostaríamos de ter vivido.
O sentido da vida realiza-se no presente, mas se enraíza no passado e aponta para o futuro. Como futuro do passado, o presente funda-se na memória, que o acompanha como sua sombra.
Nas demandas sobre o futuro, muitos recorrem a Deus, que teria o poder de configurá-lo. Ninguém, no entanto, ora para mudar o passado. Nesse caso, é o recurso à memória que pode reescrever a história.

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