Em “A Biblioteca de Babel”, Borges imagina um local que conteria todos os livros, já ou a serem escritos, em todas as línguas. Uma combinatória infinita de signos garantiria a completude do acervo. Nesse mundo simbólico, fundem-se a realidade e a literatura. Restaria um problema: somente um deus seria capaz de decifrar tudo.
Em alegoria similar, Anatole France afirmou: “Um dicionário é o universo em ordem alfabética; é o livro por excelência. Todos os demais estão ali contidos: não nos resta senão extraí-los.”
O mapeamento do genoma humano tem um significado análogo. Somos todos compostos a partir de cerca de 38000 genes, nos quais mais de 3 bilhões de pares de nucleotídeos unem-se em cadeias de DNA, que se abraçam e dançam valsas vienenses.
A dúvida crucial permanece: dado um livro, sabemos situar cada uma de suas palavras no dicionário, mas ninguém é capaz de produzir ou analisar um livro apenas porque dispõe de um estoque, mesmo infinito, de palavras.
O busílis da questão é a criação.

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