Uma das mais lúcidas reflexões sobre a técnica é fruto da lavra de Ortega Y Gasset, antes do aparecimento dos computadores eletrônicos. EmMeditação da técnica (1939), Ortega a associa com os atos que transformam a natureza ou as circunstâncias. Em suas palavras, um homem sem técnica, quer dizer, sem reação contra o meio, não é um homem. Dois fatos agudos, e até certo ponto surpreendentes, emergem de sua seminal reflexão.
O primeiro é que técnica não resulta da busca de adaptação do homem ao meio, mas sim do meio à vontade do ser humano. O animal é atécnico: adapta-se ao meio e segue vivendo.
O segundo fato é que somente se pode pretender que a técnica responda às necessidades humanas se nos limitarmos à manutenção da vida em sentido biológico. Em sentido pleno, a vida humana não pode prescindir de “supérfluos” absolutamente necessários, como a arte, a estética.
De modo premonitório e sutil, Ortega nos lembra: a técnica sacia as necessidades humanas com a mesma frequência com que as cria.

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