Ao nascer, recebemos a vida como uma dádiva. Tal consciência é a matriz do impulso vital da doação, primordial na pessoa. A dádiva situa-se na origem dos laços familiares e de todos os que estabelecemos, em diferentes contextos. Sentimo-nos bem ao doar algo a alguém, ao nos doar aos outros, ao ceder a vez, ao dar a palavra, ao presentear.
Mas a doação precisa ser espontânea. Cedemos de bom grado se gentilmente nos pedem, mas reagimos mal à usurpação. A coação corrompe a doação. Incomoda-nos quando nos tomam algo, abusam de nossa atenção, roubam nossa vez ou nos tomam a palavra.
Em Utopia (Morus) as refeições são realizadas coletivamente. Os mais velhos são inicialmente servidos, e a eles são reservadas as melhores porções. Diante deles estão os mais jovens. Mas os velhos trocam as porções que lhes foram servidas com os jovens em frente. Por que, então, já não são servidas as melhores porções diretamente aos mais jovens? Porque dar faz bem, e não se deve subtrair tal prazer dos doadores.

No comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *