Felicidade é um tema traiçoeiro; cascas de banana podem nos conduzir a banalidades ou a desvios semânticos. Derrapadas do primeiro tipo são freqüentes em textos de auto-ajuda; do segundo, em autores preciosos, que parecem falar de outra coisa.
Em seu Em alguma parte alguma, Ferreira Gullar docemente nos diz: “Não quero ter razão, eu quero é ser feliz.” Em As palavras de Saramago, o texto vigoroso do Nobel lusitano registra: “Não gosto de falar de felicidade, mas de harmonia: viver em harmonia com nossa consciência, com nosso entorno, com a pessoa que queremos bem, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a felicidade não, a felicidade é egoísta.”
A impressão, nos dois casos, é a de que entramos em algum desvio. Apreciamos as mensagens explícitas, mas tememos as inferências tácitas apressadas. Certamente a lógica não é tudo, mas ser feliz não é indício de irracionalidade. No mesmo sentido, também não é possível associar de modo tão natural a felicidade ao egoísmo.

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