O interesse pelas linguagens em geral não pode desviar-nos da singularidade da língua, e o fascínio pelas tecnologias não pode elidir que elas traduzem o estágio atual das técnicas.
Techné  e poiesis são dimensões distintas da ação humana. De um lado, um fazer prático, que se atém aos meios; do outro, de um fazer criativo, que nos constrói enquanto realizamos. Ambas desempenham papéis importantes, mas a criação é fundamental.
Ainda que a oralidade, a escrita e a informática sejam consideradas “tecnologias” da inteligência, a língua tem um caráter absolutamente radical no modo de ser humano; as tecnologias são apenas da ordem dos meios, nada tendo a nos oferecer no que se refere aos valores ou aos fins.
A língua é um meio de expressão, mas é mais: tem um conteúdo essencial, um elenco denso de ideias fundamentais, constitutivas da formação pessoal. A criação no âmbito das tecnologias é inteiramente tributária dos projetos e dos valores que alimentamos e que nos alimentam. Ou deveria ser.

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