Se uma escola de educação infantil anunciar que cuida de seus alunos como se fossem amebas, muitos pais sentir-se-ão desconfortáveis, e cobrarão explicações. Esta, no entanto, é a perspectiva de Ortega y Gasset, para quem uma criança não pode ser tratada, nas séries iniciais, como se tivesse órgãos específicos, como braços e pernas. Ela seria um ser inteiro que, potencialmente, pode atualizar-se em múltiplas formas. Quando quer ou precisa se deslocar, cria falsos pés (pseudópodes), depois absorvidos pelo corpo informe; órgãos que exijam treinamentos específicos, somente bem adiante, no processo de escolarização.
Os enredos das novelas televisivas também nos fazem lembrar as amebas. Eles parecem suscetíveis de transformar-se, caminhando em praticamente qualquer direção. O gosto do público pode transmutar heróis em vilões, bruxas em fadas, protagonistas em coadjuvantes e vice versa. O autor não se permite ter gostos específicos: os índices de audiência são a “consciência” do enredo/ameba.

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