El sueño de la razón produce monstruos é o título de uma gravura de Goya especialmente expressiva. Uma tradução capciosa pode substituir sueño por sonho; sono, no entanto, é a única substituição sem traição.
De fato, não se pode criticar a razão por sonhar. A ação consciente é a ação racionalmente projetada, e um projeto é um desejo com argumentos. Os sonhos alimentam os desejos e são fundamentais para a constituição dos projetos. Não existem projetos se não acreditamos em utopias. Não vivemos de utopias, mas não vivemos sem elas. Octavio Paz registrou com perfeição: As utopias são os sonhos da razão.
A pós-modernidade pretendeu desacreditar a razão, mas Habermas resistiu: é preciso reconstruí-la. E Horkheimer fez ressoar o alerta decisivo: podemos sobreviver a um eclipse da razão, mas não à destruição da mesma.
A fantasia e a imaginação são parceiras da razão, mas é preciso manter-se consciente, sonhar com os olhos abertos. É o sono da razão – e não seu sonho – que pode ser monstruoso.

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