O excesso de autoconfiança e a sensação de impotência são dois extremos que, de vez em quando, podem bater à nossa porta. Um deles nos faz ignorar os limites do humano, superestimando nossos poderes, em sintonia com os poderes da Ciência. O outro nos apequena, fazendo-nos desconfiar do sentido último da vida pessoal e reduzindo os processos vitais às contingências do acaso.
Segundo a mitologia grega, num dos extremos provocamos a ira dos deuses, e o castigo seria conseqüência natural. No outro, como a natureza não tolera o vácuo, o vazio existencial seria inevitavelmente invadido pelo tédio, pela desilusão.
Os dois extremos são sintomas de um desequilíbrio a ser regulado. A autoconfiança é fundamental, mas seu excesso é doentio, o que é particularmente visível nos maus poetas. A consciência dos limites é salutar, mas o excesso de desconfiança também pode ser doentio, como nos lembram os ciumentos.
Uma vida saudável equilibra-se, então, em um espaço situado entre a hybris e a depressão.

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