Numa democracia, todos são iguais perante a lei, e nisso reside o direito à vivência das diferenças pessoais. É crucial, no entanto, a distinção entre diferença e desigualdade. A tentação de reduzir a diferença à desigualdade é letal para a vida social. Duas músicas diferentes podem ser igualmente agradáveis, assim como duas culturas, ou duas pessoas, sem que possamos traduzir isso em uma relação do tipo “A é maior que B”.
Há leitores que desfrutam dos densos escritos de Hannah Arendt sobre pensar, querer, julgar, e há outros que apreciam a leveza descomprometida de Elisabeth Gilbert sobre comer, rezar, amar. É provável que o nível de consciência pessoal seja mais apurado entre os leitores de Arendt, assim como o é que existem muito mais eleitores entre os leitores de Gilbert; mas cada cabeça é um voto.
Simetricamente, a democracia se faz com a regra da maioria, mas é preciso resistir à tentação de traduzir a desigualdade no número de votos em um tratamento desigual entre os cidadãos.

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