Certa vez li um texto jornalístico intitulado “Os juros, as exportações e o futebol”. Li com atenção até o final, acompanhando a argumentação do autor sobre as correlações entre os dois primeiros elementos do título. Não percebi, explícita ou tacitamente, qualquer referência ao futebol. Imediatamente, reli o texto, e voltei a lê-lo uma terceira vez, e nada do ludopédio. Por vias tortas, compreendi que o autor me pregara uma peça retórica, ao nomear o texto: o futebol não deveria ter sido levado a sério.
São múltiplas as funções de uma palavra em um texto: denotar, conotar, reforçar, sugerir, dissimular, conectar, emocionar, atrair, disfarçar, distrair, entre outras. A atenção do leitor é o fim de todos os esforços. Quem escreve quer ser lido. Não vale ser hipócrita. Não valem o descompromisso com a verdade, a falta de integridade. Vale muito buscar construir a visualidade em dupla mão: da imaginação ao papel, do papel à imaginação.
A retórica é importante, quando não é apenas retórica.

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