Persona era a máscara que os atores usavam no teatro greco-romano. Aí têm origem as palavraspessoa, personagem e sinceridade. Como pessoas, representamos múltiplos papéis. Em cada ação, a sinceridade contrapõe-se à hipocrisia: persona sinceraera a máscara sem cera, transparente, através da qual se via o rosto do ator.
A sinceridade é desejável, sempre que não agride o outro, como o excesso de luz o faz com os olhos. Mas a transparência não basta, se não há consciência nas ações. Sinceridade não é garantia de verdade, nem naturalidade o é de autenticidade: o inferno está cheio de ingênuos e bem intencionados.
Se é verdade que o projeto romântico de ser como se deseja contraria o imperativo de Píndaro (“Torna-te o que és”), também o é que existe uma natural superestimação da naturalidade. Todos os que, como Sthendal, desmereceram as influências da cultura e da civilização, derraparam no paradoxo da sinceridade: Nada nos impede tanto de ser natural quanto o desejo de sê-lo, ou parecê-lo.

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