Gostamos de ter razões para nossos gostos, mas raramente eles são regidos por uma racionalidade a priori. Olhamos um quadro nunca antes visto, ou somos apresentados a uma pessoa: gostamos ou não gostamos do que vimos ou sentimos de modo intuitivo, imediato. As razões vêm depois. A percepção de uma imagem ou a compreensão do que sentimos ocorre de modo integrado. Não percebemos uma imagem ponto a ponto, pixel a pixel: sua forma é apreendida de uma só vez, como uma gestalt. O todo é mais do que a simples junção de suas partes.
Tal constatação bate de frente com o preceito cartesiano da decomposição prévia do que é complexo, para viabilizar um conhecimento seguro. A construção analítica do sentido de nossas simpatias ou antipatias é feita sempre a posteriori.
Nesse terreno, o que efetivamente ocorre aproxima-nos muito mais de Platão: gostamos de algo que vemos ou sentimos quando, de alguma maneira, o reconhecemos: todo gosto ou conhecimento seria, na verdade, uma forma de reconhecimento.

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