Três tristes tópicos têm acompanhado a ideia de pesquisa científica nas últimas décadas: o produtivismo, a irrelevância e o plágio. Arriscaremos três palavrinhas sobre cada uma delas. A premissa de que as universidades fundamentam seu prestígio nas pesquisas que desenvolvem parece pertinente, mas tem sido seguidamente mal interpretada. Em primeiro lugar, por óbvio que pareça, as pesquisas precisam ser relevantes. O mero aumento em seu número pode não significar muito. A ansiedade produtivista tem conduzido à interpretação de que todos os docentes em todos os anos de seu trabalho acadêmico devem estar desenvolvendo projetos de pesquisa, e quanto mais, melhor. Em consequência, embora nem tudo o que se faz na universidade seja pesquisa, em nome de um  produtivismo acrítico, recebem o rótulo de pesquisa atividades de relevância duvidosa. Um espectro de irrelevâncias pode ser apresentado tendo em um dos extremos a mera retórica estatística, que emula e simula as pesquisas eleitorais ou de mercado, e que conduzem a conclusões do tipo “Sete em cada dez brasileiros são 70%”. Em outro extremo, um uso pertinente e adequado da matemática pode conduzir a resultados estatisticamente significativos, mas cientificamente irrelevantes, como os que indicam a correlação quase perfeita entre o número de crianças que nascem com dois ouvidos e o de crianças que nascem com uma boca, levando à conclusão sensata de que se deve ouvir duas vezes mais do que sair por aí falando… O encadeamento perverso resulta engendrado: o produtivismo acrítico conduz à banalização da ideia de pesquisa, que favorece à irrelevância de parte expressiva dos resultados divulgados. Um tempero complementar em tal imbróglio é a crescentemente anunciada ocorrência de plágio em trabalhos científicos. Não se pode aqui contemporizar com práticas criminosas, mas é fundamental entender o contexto que as engendra. Quando as exigências parecem descabidas, os atalhos se tornam atraentes os que são eticamente vulneráveis: no âmbito da sedução do campeão, o plágio campeia. Pressionada por agências de fomento como a FAPESP, que há anos destina 10% de seus recursos de cada projeto financiado para a criação de instâncias de policiamento da integridade acadêmica, a USP tem colocado à disposição de seus docentes um programa de verificação de similaridade de textos, para a detecção de cópias ou de abusos na ideia de autoria. Quando se constata que, apenas no ano de 2016, a FAPESP transferiu R$ 56 milhões a 14 instituições com a finalidade exclusiva de exercerem tal função fiscalizadora, pode-se vislumbrar o tamanho da encrenca.

*******SP 15-06-2017

No comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *