A responsabilidade é uma afável porta de entrada no terreno da autoridade. Não existe um par mais solidário do que autoridade/responsabilidade. Não existe autoridade irresponsável; quando a irresponsabilidade chega é porque a autoridade já se esvaiu ou se foi. Refletir sobre a ideia de autoridade a partir de sua associação indissolúvel com a ideia de responsabilidade pode ser um recurso interessante. Uma autoridade sempre responde pelos outros. Quem não quer assumir responsabilidades pelo outro não pode exercer qualquer tipo de autoridade. A relação entre direitos e responsabilidades também é interessante. A garantia dos direitos dos cidadãos é responsabilidade, é dever do Estado; por outro lado, é direito do Estado que o cidadão assuma suas responsabilidades, que cumpra seus deveres cívicos. No que se refere ao poder, a autoridade pressupõe um poder legitimamente constituído, mas nem todo poder advém de uma autoridade. Um poder sem o consentimento tácito que nasce da autoridade é frágil e efêmero; uma autoridade sem poder é literalmente impotente. Fechando o círculo, como o exercício do poder relaciona-se diretamente com a necessidade de responder pelas ações dos outros, a responsabilidade é um dever inerente ao exercício do poder. Assim como somente pode ser excêntrico aquele que vislumbra um centro,  somente pode ser irresponsável quem tem o dever de responder pelos outros. No nível pessoal, há, em cada um de nós, um âmbito interno em que nós somos a maior autoridade sobre nós mesmos. Invadir tal “fundo insubornável” da pessoa é destruí-la, pretendia Ortega y Gasset. Em compensação, cada um de nós é absolutamente responsável por tudo o que advém de tal âmbito: somos responsáveis até – e principalmente – pelos nossos atos irresponsáveis.

**********SP 11-09-2016

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