Não ter fé já foi uma atitude revolucionária, libertadora. Ao reagir aos excessos do pensamento religioso no controle das ações humanas, a razão iluminista proscreveu a fé e proclamou a independência da pessoa em relação ao domínio da Igreja. Guiados pela luz da razão, os seres humanos teriam condições suficientes para compreender o mundo e fazer as escolhas éticas para uma vida junto com os outros.

Tal expectativa, no entanto, durou pouco. Aqui e ali, o método científico mostrou seus limites. A percepção sensorial, inicialmente retida como suspeita na porta do conhecimento, passou a reivindicar um papel no seio da epistemologia. Evidenciou-se que os sentimentos resistem a uma racionalidade estrita, e não são um defeito, mas um motor essencial das ações humanas. A razão, então, abriu-se em leque de racionalismos. A opção por um deles é não-racional, tal como o é a opção religiosa. E todas as vertentes pressupõem uma fé: a fé na existência de uma ordem compreensível nas coisas do mundo.

 

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