Ver para crer é uma máxima ambígua: também se poderia afirmar que é preciso crer para ver.

Nada traduz mais legitimamente a identidade de uma pessoa do que seu rosto. Não duvidamos de sua existência e até concordamos: os traços fisionômicos revelam a alma, os sentimentos mais profundos. Mas ninguém pode ver diretamente o próprio rosto, como observamos nossas mãos ou nossos pés; só temos acesso a ele recorrendo a intermediários, como fotos ou espelhos.

Muitos objetos científicos somente podem ser estudados de modo indireto, com a ajuda de instrumentos que registram suas presenças por meio de determinados efeitos; os reflexos que determinam em outros objetos são considerados suficientes para caracterizar sua existência.

Situações análogas ocorrem em questões atinentes à espiritualidade e à religiosidade. Nas complexas relações entre o humano e o divino, entre o sagrado e o profano, nem sempre nos damos conta das mensagens indiretas, ou de como a natureza funciona como um espelho de Deus.

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