Em sua fina ironia, José Paulo Paes é incisivo:
“para quem pediu sempre tão pouco/o nada é positivamente um exagero”.
No mesmo sentido, Saramago reitera:
“Talvez por nunca ter querido nada, tenho tudo.”
Em ambos ecoa a máxima latina: “Felicidade é desejar o que se pode, e poder o que se deseja.”
Mas a felicidade não depende apenas da razão entre a pretensão e a realidade: ela oscila entre a coragem e a temperança. Desejar o factível é apenas seu aspecto bem comportado; ela sempre extrapola tais limites. A ousadia do sonho e a desconfiança do impossível são inevitáveis na felicidade, o que atrai o risco, inerente a todos os projetos: não existe felicidade no âmbito do absolutamente previsível. A sabedoria popular registra: “Quem não arrisca, não petisca”.
A contenção de Saramago e a ironia de Paes são temperadas pela inspiração de Fernando Pessoa, nos versos iniciais de Tabacaria:  “Não sou nada/Nunca serei nada/Não posso querer ser nada/À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

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