O fenômeno é antigo, mas a internet amplificou-o: é cada vez mais difícil distinguir as vozes e os ecos. Em contexto bem distinto, Lavoisier já dissera que na natureza nada se cria; interpretações simplórias de certas correntes lingüísticas parafraseiam a máxima da Química e afirmam que os diversos discursos recombinam, reiteram, ou apenas ecoam o dito e o desdito.
Naturalmente, na rede e fora dela, existem vozes efetivas, mas a pressa e o mercado privilegiam o pitoresco, ou diluem-nas entre ecos, ecos de ecos, ecos de ecos de ecos, que terminam por sufocá-las.
A cada instante, a Poesia nos lembra da palavra essencial, da mensagem original, mas é um reduto de minorias. Que fazer?
Não se trata aqui do elogio do idiossincrático, da pulverização das vozes: a busca da sintonia é fundamental. Mas é preciso unir as vozes, similares e distintas, e compor com elas um harmônico coral. Com um projeto e uma partitura, cada um pode encontrar um canto para estufar os pulmões e dar vida à própria voz.

No comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *