Ser ou não ser é a crucial questão hamletiana; seguir a razão, entrar na luta de frente, ou fingir-se de louco, e sair pela tangente?
   Ser e não ser seria, supostamente, uma questão menos candente: uma simples contradição, dirão os lógicos. Mas nada é simples com o verbo ser.
É possível ser e não ser no mesmo espaço, em tempos diferentes. Também é possível ser e não ser no mesmo tempo, em espaços distintos. Chove e não chove: aqui, hoje e amanhã; ou agora, aqui e na China.  Inaceitável seria o ser o não ser no mesmo espaço e ao mesmo tempo. A dificuldade de compreensão não está nas coisas: é sina do verboser.
A simbiose entre o ser e o não ser é a dinâmica da vida, que não se resume às bifurcações do sim ou não. Quem está vivo morre um pouco a cada momento. A vida é criação, e alimenta-se continuamente dela.
Em O Banquete, Platão cunhou o aforismo decisivo:Todo ato de criação é uma passagem do não ser ao ser. A vida é uma chama que nos anima e consome. Ao mesmo tempo, em cada lugar.

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