A expectativa da ciência biológica é decifrar o código genético e produzir remédios decisivos para manter a vida, e, quem sabe, criá-la. Com muita euforia, há uma década, foi anunciado um esquema inicial para a leitura de cadeias de DNA, complexos textos com bilhões de “letras” químicas. Atualmente, as instituições de pesquisa armazenam mais de 270 bilhões de pares de bases de DNA. Descobriu-se ainda que, no universo das dezenas de milhares de genes que codificam as proteínas, existem múltiplos modos de leitura para cada conjunto de letras. E ainda estamos no terreno da leitura.
A produção de remédios e a interferência direta nos processos vitais exigem mais do que a decifração, ainda longe de ser completada: elas dependem muito mais da capacidade de expressão escrita nesse complexo código. Quanto a isso, permanecemos como os escravos, a quem era permitido aprender a ler para bem cumprir ordens. As ambiciosas metas anunciadas pela ciência biológica dependem de engenho e arte na escrita.

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